Oi meus botões,
Desde a madrugada que estou matutando e treinando essa conversa com vocês. É que tem muita coisa fervilhado dentro de mim.
Estou acompanhando de perto o fim de um romance, um relacionamento onde parecia haver muito amor. Experimentando o susto pela surpresa, depois a aflição diante de uma dor que eu não podia ajudar a aplacar, eu tenho estado muito mobilizada.
Por ter já aprendido a relação entre AMOR E SOBREVIVÊNCIA, título de um livro que me foi recentemente receitado por um médico (e que tem como subtítulo "A base científica para a cura pela intimidade") eu não consigo ficar alheia e sem pensar muito sobre o que nos leva a nos perder de viver TODAS as possiblidades do amor que tudo cura.
Por que será que escolhemos nos afastar de pessoas que amamos quando o convívio se torna difícil, desafiador das nossas crenças ou valores, egoicidades e idiossincrasias? Por que, decididos, nos deixamos abertos ao mal, às doenças do corpo (baixa imunidade tem tudo a ver), da mente e da alma, só para não enfrentarmos os desafios de estabelecermos relacionamento com o outro? Será que intimidade nos assombra, quando segundo as pesquisas do livro acima citado, é fonte de sanidade e até de cura?
A ciência nos ensina que VIDA é algo sistêmico e por isso um fenômeno resultante de relacionamentos que se estabelecem entre as menores partes de um sistema, tornando-o um outro sistema maior, que por sua vez se une a outros sistemas, e assim sucessivamente.
O "eu sozinho" é a maior das ilusões de segurança mas em nossa formação individualista é a primeira escolha por nos dar a sensação de estarmos no controle. Mas esse controle é a maior falácia porque nos afasta da VIDA, nos impede de desenvolver as habilidades para transitarmos no caminho do AMOR, que é o liame de relacionamentos bem sucedidos mas nem por isso imunes às características gerais do sistema VIDA que pressupõe:
1. Complexidade, levando sempre em conta o contexto
2. Instabilidade, que aceita a indeterminação, a imprevisibilidade, a reversibilidade, a incontrolabilidade
3. Intersubjetividade, que coloca a objetividade num de seus aspectos existenciais e não desconsidera, em suas relações, a subjetividade do outro.
Isso parece muito didático, mas bolas, ensinar e aprender é algo que está implícito nessa perspectiva de ser a VIDA um eterno exercício de relacionamentos e por consequência, de trocas. A isso se dá o nome de INTERDEPENDÊNCIA.
Se somos educados para buscar INDEPENDÊNCIA, AUTOSSUFICÊNCIA, SEGURANÇA, e por aí vai, é natural que quando nos deparemos com a descoberta dessa 'liga' que mantém a vida que chamamos AMOR, o deixemos extraviar-se. Como podemos nos entregar à vulnerabilidade? Como podemos admitir viver algo que derruba os valores máximos que nos ensinaram serem garantia de sucesso e felicidade?
Quando será que vamos acolher sem medo esse sentimento/'liga', com o reconhecimento tão simples de que para que ele funcione como meio de criação do bem e de expressão da nossa saudável interdependência, para que ele atenda à nossa necessidade vital primeira, (muito bem expressa por Confúcio, que dizia que "Para o ser humano SER é preciso que exista outro ser humano para o reconhecer" ) precisamos desaprender tudo sobre independência, autossuficiência e segurança, que são valores não aplicáveis a AMOR?
Quando vamos evitar esse extravio de amor e vivermos o amor como nos ensina a canção:
“O seu amor, ame-o e deixe-o livre para amar,
O seu amor, ame-o e deixe-o ir aonde quiser,
O seu amor, ame-o e deixe-o brincar, ame-o e deixe-o correr,
ame-o e deixe-o cantar, ame-o e deixe-o dormir em paz.
O seu amor, ame-o e deixe-o ser o que ele é”.
(O seu amor de Gilberto Gil)
Penso que se aplicarmos esses versos nos referindo não a uma pessoa, mas ao amor em si mesmo e deixarmos esse tipo de AMOR habitar em nós, nunca teremos medo de amar por medo de perdermos nossa falaz independência, nossa ilusória autossuficiência, nossa fictícia segurança. Se o nosso sentimento for livre em si mesmo, leve o suficiente para ser como uma criança, seguro para ser o que ele é, nunca vamos nos apartar das pessoas que nos fazem sentir assim, porque saberemos que a instabilidade é própria da (a)venturosa presença desse AMOR em nós.
Ah, meus botões, vejo que o tempo urge, e eu não quero parar de falar sobre isso. Respirar esse sentimento enquanto escrevo é muito bom, não me canso. Mas se isso fica muito comprido pode cansar quem se aventurar a ler, então, por ora está bom.
sexta-feira, 10 de julho de 2009
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