sexta-feira, 3 de julho de 2009

A MORTE NA VIDA HUMANA

Volto a esse tema para postar algo que escrevi há alguns meses atrás e que ainda está tão fresquinho nas minhas experiências do cotidiano.

De uns tempos pra cá tenho sido chamada a pensar na morte. Não naquela simbólica, que todos os dias nos faz acordar diferentes, desfeitos de crenças e valores que achávamos definitivos e que, sem nos darmos conta, mudaram e nos transformaram.
Falo da morte fenômeno da vida física, falo do fim do meu corpo.
Eu adoeci, agora de uma doença que tem o estigma da morte, e todo mundo estranha que não me tenha enchido de pavor. Parentes, amigos, desconhecidos, médicos, terapeutas, todos, absolutamente todos, querem que eu manifeste sentimentos que a experiência dessa doença não me trouxe.
Então preciso falar do que é morte para mim.
A morte do corpo é um estágio da nossa experiência humana e não consigo me ver num embate tentando contrariar a natureza. A natureza, em sua sabedoria, estabeleceu um tempo determinado para que os seres vivos se expressassem e compusessem sua parte na grande e infinita sinfonia da VIDA. Que sentido faz lutar contra algo assim, tão claramente estabelecido em nosso contrato inicial de vida?
A morte não é minha inimiga, ela não é um mal e jamais fará mal a quem quer que seja. A morte está contida na nossa vida e ponto final. Jamais existiu ser vivo, humano ou não, que tenha se perpetuado na vida, e que não tenha passado por essa transmutação propiciada pela morte.
É desperdício de energia vital acreditar que a morte é um mal e lutar ‘contra’ ela.
Bom mesmo é acolhê-la sem receio e fazer de cada dia de nossa vida um tempo que valha a nossa existência, pois é assim que nos eternizamos. A morte amiga nos transforma, nos transporta, e nos permite a perene troca de energia cósmica que purga o universo, tudo limpando e tudo renovando.
A minha busca pessoal sempre me encaminhou para tornar a vida – período de tempo em que estou experimentando este corpo – em algo útil para a Grande VIDA, aquela todo-inclusiva, aquela do grande sistema imaginado pela sabedoria da CRIAÇÃO, para mim chamada de DEUS. Então me esforço para colocar cada vez mais energia na força de criação de vida, e absolutamente nenhuma energia no combate à morte.
Assim, diante de uma doença, não me vejo criando soldados ou cangaceiros com caras de maus para derrotá-la, vejo-me sempre reforçando minha energia de vida, que entendo que se fortalece na união, na alegria, na doação, no AMOR. E essa é a cara que quero para meus glóbulos brancos.
O que por certo a gente precisa aprender é a lidar com PERDAS. Toda perda é para nós uma forma de morte. É o não estar mais junto do que se conquistou – sejam os afetos, sejam as coisas inanimadas que, representando nossos afetos, nos fazem falta. Alguns pensadores da vida e da morte nos dizem que viver é perder, já que ao longo da nossa existência vamos perdendo coisas, pessoas, sentimentos. Esses são os pessimistas e descrentes.
Outros contudo consideram que viver é TROCAR. Ao nascer, trocamos a segurança do ventre materno pela segurança do colo e não somente pelas agruras do mundo, e por aí vai. Vamos trocando a forma do nosso corpo e vamos ganhando possibilidades e perdendo experiências que só aquela fase da vida nos proporcionava. Isso é ter uma visão otimista do viver que é coroada com a visão otimista do morrer, que é também perder uma forma e ganhar outra, mas continuar existindo.

2 comentários:

Ana Claudia disse...

Belas palavras tia Marcia. Nous sommes tout a fait d'accord. Beijos,
Marcilio e Ana.

Anônimo disse...

Márcia
tudo isto faz muito sentido para mim. Gostaria de conversar com você sobre isso.
Parabéns por uma atitude tão positiva diante da adversidade.
Abraços
Rosário